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Obesidade e internet


Por Emília Vitória da Silva (*)
Gostaria de utilizar este espaço oferecido pela Arlete Santos para falar de dois assuntos muito em moda nestes últimos tempos: obesidade e internet.
A obesidade está se tornando, pouco a pouco, um problema de saúde pública. No Brasil, 9% dos homens e 13% das mulheres são considerados obesos. (1) Mais do que uma questão estética, mesmo numa sociedade que prega a magreza como sinônimo de beleza, a obesidade é fator de risco para inúmeras doenças, como diabetes melito tipo 2, hipertensão, doenças coronarianas, hipercolesterolemia, osteoporose de joelho, dores lombares, gota e apnéia do sono; aumentando, assim, a morbimortalidade da população brasileira. (2)
Por seu lado, a Internet se popularizou muito nos últimos anos em nosso país. Cerca de 40% dos brasileiros acessam a Internet. Deste universo, 87% utilizam esta rede mundial para buscar informações, sendo 32% dados relacionados à saúde e serviços médicos. (3) Enfim, pode-se considerar que a Internet se tornou uma grande “enciclopédia”, onde tudo se busca e qualquer tipo de informação se encontra.  
Se juntarmos este dois componentes, o que se observa é que a Internet é uma fonte óbvia de busca de informação sobre obesidade. Uma demonstração disto é o aumento do número de sítios que divulgam informação sobre obesidade e o tema “perda de peso” ser um dos mais buscados na área da saúde. (4)
Contudo, é importante ter cautela quando se junta obesidade e Internet.
Recentemente, fiz uma pesquisa para o meu doutoramento avaliando a qualidade da informação sobre o tratamento farmacológico em páginas da Internet, no Brasil. O resultado foi muito insatisfatório.
De início, constatei que 65% das páginas pesquisadas tinham caráter comercial. Isto só veio corroborar o aspecto mercadológico associado à Internet, meio utilizado para promoção e venda de produtos. (5)
Outro aspecto preocupante observado foi que, em grande parte dos sítios avaliados, conteúdo disponível não apresentava informações importantes para um texto sobre saúde, como a autoria – ausente em 61%, data de publicação – ausente em 52%, e citação das referências utilizadas para sua elaboração – ausente em 86%. Até mesmo a instituição responsável pelo sítio não era apresentada em 31% dos sítios. (5) Estas informações, apesar de não indicarem a precisão do conteúdo, são consideradas indicadores de qualidade e até mesmo essenciais para apresentação de um texto sobre saúde. (6)
Por último, minha pesquisa comparou o conteúdo constate nos sítios com informações extraídas da literatura atualizada e imparcial sobre o tratamento farmacológico da obesidade e validada por especialistas.  Neste quesito, muitos dados que deveriam estar presentes em um texto informativo sobre o tratamento farmacológico da obesidade não foi apresentado nas páginas. Ainda quando presentes estavam divergentes com a literatura médica. (5)
Diante de tal quadro, a minha pesquisa concluiu que a Internet, no que diz respeito às informações sobre o tratamento farmacológico da obesidade, não é uma fonte confiável para  pessoas leigos se informarem sobre este assunto.
Outras pesquisas, muitas das quais realizadas em outros países, demonstram esta tendência de páginas da Internet não apresentarem conteúdo confiável sobre diversos temas da saúde, como câncer, depressão, diabetes, etc. (7-9)
Considerando, então, estes resultados, o público leigo que deseja buscar informação sobre saúde na Internet, deve tomar alguns cuidados.
·        Tenha senso crítico e não acredite no primeiro sítio que encontrar. É importante fazer uma pesquisa comparando as informações.
·        Dê preferência a sítios sem fins lucrativos, como páginas de órgãos do governo ou de entidades da área de saúde, por exemplo, que geralmente têm interesse em transmitir informação correta.
·        É muito importante procurar quem é o autor das informações e se ele é qualificado para escrever sobre o assunto.
·        Verifique se o texto apresenta a origem das informações (referências bibliográficas) e data de publicação.
·        Verifique a instituição responsável pelo sítio e descarte aquela com interesse comercial.
·        O sítio da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (www.abeso.org.br) é completo e traz informações qualificadas.  

Espero que eu tenha contribuído um pouco para que vocês, internautas incansáveis na busca de informações, sejam um pouquinho mais criteriosos quando navegarem na internet. 
Última atualização: 04/07/2010.

Referências:
1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares – 2002/2003: antropometria e análise do estado nutricional de crianças e adolescentes no Brasil. [acesso em 2008 Nov 13]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2003medidas/default.shtm
2 Padwal R, Rucker D, Li SK, Curioni C, Lau DCW. Long-term pharmacotherapy for obesity and overweight. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 4, Art. No. CD004094. DOI: 10.1002/14651858.CD004094.pub4. 2010.
3 Comitê Gestor da Internet no Brasil. Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil. São Paulo; 2009.
4 Fox S. Health information online: eight in ten internet users have looked for health information online, with increased interest in diet, fitness, drugs, health insurance, experimental treatment, and particular doctors and hospitals. Washington: Pew Internet & American Life Project; 2005.
5 Silva EV. Análise das informações sobre o tratamento farmacológico da obesidade disponibilizadas em sítios da Internet, no Brasil. [Tese de Doutorado]. Universidade de Brasília: Brasília. 2009.
6 Silberg WM, Lundberg GD, Musacchio RA. Assesing, controlling, and assuring the quality of medical information on the internet. JAMA. 1997;277(15):1244-5.
7 Bernstan EV, Walji MF, Sagaram S, Sagaram D, Johnson CW, Meric-Bernstan F. Commonly cited website quality criteria are not effective at indentifying inaccurate online information about breast cancer. Cancer. 2008;112(6):106-13.
8 Griffiths KM, Christensen H. Quality of web based information on treatment of depression: cross sectional survey. BMJ. 2000;321(7275):1511-5
9 Seidman JJ. The mysterious maze of the World Wide Web: how can we guide consumers to high-quality health information on the Net. In: Murero M, Rice RE, editors. The internet and health care: theory, research, and practice. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates; 2006. p. 195-212.



 (*) – Farmacêutica, Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília. Atualmente, trabalha no Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos, seção do Conselho Federal de Farmácia, em Brasília.  Contato: emiliavitoria@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. não tinha conhecimento sobre esta fragilidade destes sitio,costumo pesquisar muito sobre saúde na internet até por que saúde publica no Brasil e um descasos,

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